Olhe para trás. Tente visualizar. Como você imagina o nascimento dos seus antepassados? Como sua bisavó pariu sua vó? E sua tataravó? Como era a preparação para o parto? Com certeza não havia consultas mensais de pré-natal, ultrassom para acompanhar o desenvolvimento do bebê, fisioterapia pélvica, hidroginástica, yoga e por aí vai. As mulheres simplesmente gestavam e pariam. E a maioria delas fazia isso consecutivas vezes, ano após ano. E sim, seus corpos davam a luz sem mil preparações. Não havia tanto medo nem tanta desconfiança pois sabia-se que se tratava de um processo fisiológico. Os bebês nasciam da mesma forma que vamos ao banheiro fazer nossas necessidades todos os dias. Ninguém se questionava se o bebê conseguiria nascer pela vagina. Falando de forma bem grosseira, ninguém questionava o parto assim como não se questionava se as fezes sairiam naturalmente ou teríamos que usar de artifícios para facilitar o processo.
Os bebês sempre nasceram em suas próprias casas rodeados de mulheres, parteiras, familiares, amigas. Foi na alta sociedade inglesa que a história começou a tomar outro rumo. Rodeadas pelo novo pensamento iluminista onde o corpo passou a ser considerado uma máquina e que era defeituosa e o médico passou a ser seu mecânico que devia conserta-la, inclusive quando se tratava de um processo fisiológico. O modelo de assistência passou a dar maior relevância ao médico do que a parturiente. Mulheres passaram a parir deitadas ou em posição de litotomia para maior comodidade da assistência e a partir disso muitas outras intervenções entraram para consertar a “máquina defeituosa”. Os desejos e emoções da mulher ficou de lado assim como sua autonomia. Com esse novo cenário mais e mais intervenções se colocavam como necessárias pois uma mulher em trabalho de parto sem liberdade e autonomia perde a conexão com seu corpo e o processo fisiológico é dificultado.
O parto hospitalar começou a ser uma possibilidade no final do século XIX mas apenas nos anos 50 ele se consolidou. Foi nas últimas duas décadas que as cesarianas no Brasil tiveram seu grande crescimento, predominando os partos vaginais desde 2019. Hoje um pouco mais de 55% dos nascimentos são por via cirúrgica no Brasil, extrapolando em muito a recomendação da OMS de 15%. Na rede particular esse número chega a 84%. Esse número vem também em resposta à tentativa de escapar da violência obstétrica que muitas mulheres passam hoje no Brasil.
O avanço tecnológico tanto de diagnósticos pré-natais como durante o parto e as próprias cesarianas já salvaram muitas vidas e facilitaram partos difíceis. O avanço trouxe muitos benefícios e também desconexão com a nossas raízes e ancestralidade feminina. Dentro desse contexto surge o movimento pela humanização do parto o qual integra a ciência e a reconexão com as raízes. Impulsiona políticas públicas de incentivo ao parto normal e luta pelos direitos e desejos das mulheres e respeita o binômio mãe/bebê. Preza por sua autonomia e segurança. Preza sobretudo pelo protagonismo da mulher e por uma assistência baseada em evidências científicas.
Por Joana Zimmermann
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